No dia 2 de Setembro de 1986, num Domingo, Flamengo e Goiás se enfrentaram no Estádio Serra Dourada pelo Campeonato Brasileiro de 1986 e o time carioca goleou o verdão de Goiás por 4 tentos a 0. Nesse ano O São Paulo foi o campeão.
O Jogo
GOIÁS (GO) 0 X 4 FLAMENGO (RJ)RJ
Data: 02/11/1986 - Domingo
Campeonato Brasileiro
Local: Estádio Serra Dourada / Goiânia
Árbitro : Dulcídio Wanderley Boschillia (SP)
Renda: Cr$ 1.324.500
Público: 45.380
Gols: Kita (3), Sócrates
GOIÁS: Eduardo, Ronaldo, Gomes, Vavá, Paulo Silva, Albeneir, Jorge Caraballo(Carlos Magno), Carlos Alberto, Tarciso, Zezinho, Joãozinho Paulista(Fagundes) / Técnico: Mário Juliato
FLAMENGO: Zé Carlos, Aílton, Leandro, Aldair, Jorginho, Sócrates(Marquinho), Andrade, Zinho, Bebeto, Júlio César Barbosa(Vinícius), Kita / Técnico:Sebastião Lazaroni -
Principal Artilheiro do Campeonato
Careca do São Paulo: 25 Gols
O Craque: Sócrates
Ele foi a antítese do bom atleta: era contra treinos individuais ou coletivos e abstinência – sobretudo de sexo, álcool, fumo, noitada e viola (que tocava). Até o seu nome fugia do convencional: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira. Estudou medicina enquanto jogava, expôs-se em política e viu o binômio cartola-jogador da ótica das relações de trabalho. Deu-se à cidadania com afinco, sendo intransigentemente solidário com os colegas de profissão.
Para empregar o termo típico da inútil e néscia ditadura militar brasileira, Sócrates era subversivo. Todavia, do ponto de vista estritamente democrático, um cordial e saudável subversivo – utilíssimo à humanidade.
Por acaso, ele nasceu em Belém do Pará a 19 de fevereiro de 1954 e se criou na paulista cidade de Ribeirão Preto, onde aos 16 anos atuava no Botafogo Futebol Clube local. Aos 18, já matriculado na escola de medicina, Sócrates soube conciliar o curso escolhido com a vida de craque. Desde aí, atraídos pela soberba bola desse meia-armador e atacante essencialmente técnico, vários times brasileiros o queriam.
Muita gente mais velha passou a ver nele a reedição de Ipojucan, o excepcional vascaíno de, também, 1,91 m de altura, muito clássico, que usava com propriedade o calcanhar e fazia lançamentos incríveis. Porém, Sócrates, que nunca viu Ipojucan, ouvia essas comparações agradecido. Por esse tempo, ele decidiu só sair do Botinha (apelido carinhoso do Botafogo de Ribeirão Preto) quando concluísse o curso universitário.
E em 76, já profissional no futebol, o acadêmico foi artilheiro principal do campeonato paulista com 15 gols. Dois anos adiante, como prometera, Sócrates permitiu que seu passe fosse negociado com o Sport Club Corinthians Paulista. E na ocasião já era médico.
De cara, sem rodeios, assim que chegou ao clube da capital ele se disse adversário da concentração: “Se cada jogador cuidar da própria resistência, será mais responsável”. Os conservadores de todos os matizes puseram a barba de molho – embora que o barbudo fosse ele, Sócrates. E cabeludo também. Depois, tranqüilo, falou que fumava, bebia e gostava de violão.
Contudo, o que os fanáticos torcedores corintianos tiveram dificuldade de engolir foi quando ele revelou que o seu coração era santista. Mas tudo isso seria fichinha se comparado ao que o apelidado Magrão fez jogando e na ante-sala dos costumes do Corinthians. Em 1979, Sócrates venceu o certame estadual e, inspirada nele, instalou-se a democracia corintiana – conjunto de ações que fez, por exemplo, o voto do atleta reserva ser igual ao do diretor de futebol e as decisões só valiam se expressassem a vontade da maioria. Hoje, com o regime democrático de volta ao Brasil, isso é normal, faz parte do cotidiano. Mas na época do execrável regime militar...
Nesse mesmo 79, Sócrates estreou na seleção brasileira em 15 de maio. Ele disputara a Copa América (também em 83) e o Mundialito, ficando no time titular até o Mundial na Espanha, em 1982, quando formou com Zico, Falcão e Cerezzo o quadrado mágico que encantara o planeta, apesar de o Brasil ter sido vencido. De volta ao clube alvinegro, o Doutor – nome que lhe fora dado em função do título universitário e pelo fato de saber tudo de bola – fez a equipe conquistar o campeonato estadual. E bisaria esse troféu no ano seguinte, levando a massa corintiana ao delírio.
Por vê-lo fazer jogadas magistrais com o calcanhar, o Magrão recebeu de Pelé um comentário no mínimo curioso: “Ele joga melhor de costas do que de frente”. A essa altura, o Doutor era procurado por emissários europeus querendo levá-lo, todos a verem nele um craque artístico que, efetivamente, aplicava a inteligência. Todavia, Sócrates – com 302 jogos e 166 gols pelo Corinthians – teimava em ficar no Brasil.
Mas a emenda do deputado Dante de Oliveira – que restituía ao País o direito de realizar eleições diretas em todos os níveis, inclusive para a Presidência da República – não vingou no Congresso Nacional e, frustrado, o Magrão foi para a Fiorentina, em 84. Na Itália, teve vários motivos para não se adaptar – um deles, além do frio, o excesso de treinamento físico, já que era avesso a essa prática. Ainda ficou em Florença até 1986, aproveitando o tempo para se aprimorar em matéria de arte e história natural.
Na primeira volta ao Brasil, ele foi para a campineira Ponte Preta. Contudo, em Campinas se deu conta que a promessa que lhe fora feita era fria e que, sequer, a soma das luvas lhe fora paga. Resultado: Sócrates retornou a Firenze. E a seguir, felizmente, seria adquirido por empréstimo pelo Flamengo e se fixou no Rio de Janeiro.
Uma das coisas que o animara a desembarcar na Gávea era a possibilidade de fazer dupla com Zico – o seu ídolo e companheiro de escrete. E que com o Doutor perdera a Copa do Mundo naquele mesmo 1986 – ano em que ambos encerrariam a estada no time nacional do Brasil. Sendo que Sócrates, ao contrário do Galinho, só fizera 65 partidas e apenas 25 tentos pela seleção.
Para tristeza dele e de Zico, no rubro-negro só atuariam uma vez. Durante mais de um ano, quando o Doutor tinha condições de jogo, o Galo estava contundido; quando Zico podia, ele era entregue ao departamento médico. Isso, porém, não impediu Sócrates de receber a faixa de campeão carioca de 1986. No ano seguinte, por divergência financeira, o Magrão saiu do Flamengo. E quis abandonar o futebol, indo para o interior de São Paulo jogar em pelada e exercer medicina.
Entretanto, sem que esperasse, chega-lhe um convite do Santos Futebol Clube para que vista a camisa branca, a mesma que serviu de manto ao Rei Pelé e a outros craques santistas. Sócrates, sem muita elucubração – esquecido de que as pernas sentiam o peso inexorável dos 34 anos de boemia e quase nenhum preparo físico –, foi para a Vila Belmiro.
Para quem sabia cadenciar um jogo como ele, não foi difícil fazer aquele campeonato estadual paulista de 1988 pelo Peixe. No entanto, também não se adaptava mais às viagens constantes, que o fazia se ausentar de casa, onde os filhos cresciam. E parou outra vez.
De volta à sua Ribeirão Preto para ser tão-somente médico, o Magrão não resistiu e ainda disputaria umas partidas do campeonato de 1989 pelo Botafogo local, o mesmo Botinha que lhe revelou. E, depois de se despedir das chuteiras, efetivamente foi exercer a profissão exclusiva de médico. No entanto, quando se entendia conformado sem futebol e curtindo os últimos anos de ídolo do seu mano Raí – que brilhou no São Paulo, Paris Saint-Germain e na seleção brasileira –, eis que teve uma recaída e assumiu, a pedido do ex-lateral-direito Leandro, o comando técnico da Associação Atlética Cabo-friense, no interior do estado do Rio. Seu êxito foi levar o clube à primeira divisão do certame carioca. Contudo, em Cabo Frio, o Doutor Sócrates se deu por satisfeito com isso e voltou a Ribeirão Preto para – enfim – ser só médico.
No plano das idéias políticas, ele se manteve de esquerda e militante, sem estardalhaço, no Partido dos Trabalhadores, o PT, organização que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva presidente da República, em 2002. Entretanto, esse antigo artista do futebol brasileiro nunca fez questão de ser político. No fundo, esse politizado e pacato habitante de Ribeirão Preto é igual a esta frase de uma revista: “Sócrates jamais se esforçou para ser um craque. Ele simplesmente era”.
Clubes
1973-1978: Botafogo-SP
1978-1984: Corinthians-SP
1984-1985: Fiorentina - Italy
1986-1987: Flamengo-RJ
1988: Santos FC-SP
1988: Botafogo-SP
Titulos
Estadual / São Paulo: 1979, 1982, 1983
Estadual / Flamengo: 1986
Goals na Seleção: 23
Jogos na Seleção: 60
Fontes: Texto de Antonio Falcão
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